Professora do Departamento de Psicologia da UFPR avalia que dificuldade em encarar a própria dor, a desigualdade social e a omissão de governantes faz com que muitos brasileiros já considerem a crise sanitária de Covid-19 “passado”, evitando tirar lições.
A solidão de todos e o desamparo de muitos, ambas situações da crise de Covid-19, têm seu espaço no pacote chamado de “legado” da pandemia. É esse conjunto de problemas para a saúde pública que o Brasil precisará enfrentar nos próximos anos — aumento de fatores de risco para suicídio, mais pessoas com ansiedade e depressão. Porém: teremos políticas públicas para isso? Estamos dispostos a revisitar nossas dores para cobrar das autoridades o que é preciso?
A professora Joanneliese de Lucas Freitas, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), se dedica ao estudo da psicologia da morte e coordena projetos de extensão da área há cerca de dez anos. Lida, portanto, com pessoas que enfrentam essa questão em diferentes grupos sociais. Entre 2020 e 2021, o projeto “Luto: vivências e possibilidades” manteve um canal de atendimento para enlutados por Covid-19 que acolheu pessoas de todo o Brasil e hoje é responsável pelo plantão no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da UFPR.
Joanneliese acredita que, a despeito do grave cenário para a saúde mental no país, já está em curso um processo de invisibilização das experiências decorrentes da crise sanitária. Os indícios disso vão além do fato de a pandemia ainda não ter acabado, mas já pouco se falar dela.
As denúncias também vão se apagando, assim como as necessidades dos grupos mais atingidos pelos efeitos psicológicos — os brasileiros em vulnerabilidade social, as vítimas de violência doméstica, os indígenas, os idosos, as pessoas com doenças crônicas, os profissionais de saúde, as crianças.
Nesta entrevista, Joanneliese faz um balanço das questões de saúde mental relacionadas à pandemia, os 20 anos da campanha Setembro Amarelo e aproveita para desfazer mitos, como o de que o luto ocorre em etapas: “É uma experiência intrínseca à vida”.
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Foto de destaque: Marcos Solivan