Cerca de 60 pesquisadores e estudantes participaram, nesta semana, na Fundação Araucária e remotamente, de um workshop do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (Napi) Fenômenos Extremos do Universo. Durante o evento, foram apresentados alguns resultados alcançados nos primeiros dois anos de atividade da rede de cientistas.
Na primeira fase de trabalho, o Governo do Estado, por meio da Fundação Araucária e da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), investiu R$ 1 milhão em apoio aos pesquisadores. Grande parte deste recurso (R$ 803 mil) está sendo utilizado na construção da estrutura de suporte de um telescópio do Cherenkov Telescope Array (CTA).

“Nós tentamos envolver o maior número de pesquisadores da área de astronomia neste novo arranjo por meio de workshops, o que animou muito e contribuiu para a integração destes pesquisadores. Além disso, focamos na prioridade desta etapa que era a construção da estrutura do telescópio, que está em andamento”, explica a pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e articuladora do Napi, Rita de Cássia dos Anjos.

Além da busca pela inovação e desenvolvimento de instrumentos voltados à pesquisa astronômica e espacial, o Napi tem trabalhado nas áreas de astrofísica, cosmologia e gravitação. Também tem avançado no fortalecimento da internacionalização das instituições paranaenses na área de astronomia.

O coordenador de um dos projetos desenvolvidos no Napi, o pesquisador e diretor do Observatório Astronômico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Marcelo Emilio, tem atuado com estudiosos da Fundação Planets, que reúne pesquisadores de vários países interessados em descobrir vida em outros planetas. Atualmente, a instituição está construindo um outro telescópio com a capacidade de explorar atmosferas de exoplanetas próximos, no Havaí (Estados Unidos).
“Quando este telescópio ficar pronto será o maior fora do eixo para observação noturna, servindo de base tecnológica para construirmos telescópios ainda maiores. O grande diferencial desta tecnologia é que ele pode ser construído com menos material e muito mais barato”, afirmou.

O professor também anunciou que já há aprovação para o curso de graduação em Astronomia na universidade, que será o terceiro no País – ele é ofertado apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Segundo o professor do Departamento de Física, da Universidade Federal do Espírito Santo, e pesquisador do Napi, Jaziel Goulart Coelho, esses telescópios e o desenvolvimento de observatórios devem fomentar a indústria nacional e permitir a liderança paranaense em descobertas científicas e na geração de inovação e instrumentação científica.
“Os cientistas paranaenses e estudantes terão acesso aos primeiros dados quando o telescópio estiver em pleno funcionamento. Também teremos a oportunidade de desenvolver junto à indústria paranaense tecnologia de ponta com descobertas que vão ser de grande impacto dentro da astronomia e da astrofísica”, ressaltou.

O Napi também tem atuado na divulgação científica por meio do incentivo à participação de meninas nos projetos de astrofísica e astronomia nas escolas, e realizado parcerias com escolas e secretarias por meio de cursos/oficinas para professores e alunos, além da elaboração de materiais para deficientes visuais e baixa visão voltados para o ensino de astronomia.

Além da UFPR, UTFPR e UEPG, integram o Napi Fenômenos Extremos do Universo pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) e da empresa BrasilSat. Na segunda fase dos estudos, que deve seguir até 2028, serão priorizados os projetos de física aplicada, que têm grande impacto na sociedade.


NAPIS – Atualmente, já são mais de 50 Novos Arranjo de Pesquisa e Inovação implantados ou em construção no Paraná. A Fundação Araucária tem realizado uma série de workshops temáticos em que os pesquisadores membros do Napis podem apresentar os principais resultados alcançados dentro da fase de trabalho em que se encontram e projetar ações futuras.

Rita de Cássia dos Anjos, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no Setor Palotina, foi anunciada, nesta quinta-feira (6), como a vencedora da primeira edição do Prêmio Anselmo Salles Paschoa, criado pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) para homenagear pesquisadores negros da área de Física, em início de carreira, cujo trabalho de pesquisa tenha contribuído de forma significativa para o avanço da Física ou do ensino da disciplina no Brasil. O prêmio será celebrado em reunião on-line da Assembleia Geral Ordinária da SBF, a ser realizada no dia 19 de julho, às 9 horas.

Com graduação em Física Biológica, mestrado e doutorado em Física e pós-doutorado em Astrofísica na Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Rita de Cássia é uma astrofísica especialista em raios cósmicos e raios gama. Ela tem atuação marcante em projetos internacionais como o do Observatório Pierre Auger, na Argentina, e o Cherenkov Telescope Array (CTA), telescópios que estão sendo construídos no Chile e nas Ilhas Canárias, na Espanha, que estudarão os raios gama que chegam até a Terra para analisar eventos extremos do universo. Além de ser uma importante cientista mulher, Rita é uma cientista negra que ganhou destaque na ciência apesar do racismo estrutural no Brasil.

Foto: Arquivo pessoal

Em sua carta ao comitê avaliador do prêmio, a professora destaca que suas contribuições científicas revelam seu empenho desde a graduação. “Sinto-me uma negra especial diante de todas as oportunidades que tive na minha carreira científica. Que mais negros e negras sejam reconhecidos em nosso país e as assimetrias e desigualdades possam diminuir. Com meu trabalho como docente, pesquisadora e orientadora, espero tornar o futuro de nossos pequenos negros e negras um pouco mais esperançoso e mais leve”.

Ela afirma que o prêmio mostra a importância da diversidade racial na ciência brasileira. “Ainda somos poucos em muitos espaços e as iniciativas à diversidade emergem como possibilidade de muitos negros e negras desenvolverem-se no Brasil. Para mim, foi uma grande alegria e conquista ter ganhado o prêmio nesta primeira edição. Hoje tenho a possibilidade de fazer pesquisa em centros de excelência e espero que em um futuro próximo esta realidade seja de muitos jovens negros”.

Em 2020, a pesquisadora venceu o prêmio Programa para Mulheres na Ciência, promovido pela L’Oréal Brasil, Unesco Brasil e Academia Brasileira de Ciências e, em 2021, tornou-se membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. A grande inspiração de Rita foi a mãe, Antonia, que fez questão de insistir na importância de descobrir como o mundo funciona. Leia mais sobre a trajetória da astrofísica aqui.

Prêmio Anselmo Salles Paschoa

O prêmio é uma homenagem ao professor a Anselmo Salles Paschoa, que se graduou em Física pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com Mestrado em Radiological Health e PhD em Nuclear Sciences and Engineering pela New York University.

Ele atuou como professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi professor visitante da University of Utah e cientista convidado no Brookhaven National Laboratory, na década 80. Paschoa ainda foi diretor de Radioproteção, Segurança Nuclear e Salvaguardas da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Foi governador alternativo do Brasil na Junta de Governadores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), vice-presidente da International Radiation Physics Society e diretor da Natural Radiation Environment Association.

O cientista publicou dezenas de artigos, livros e capítulos de livros. Orientou teses de doutorado e dissertações de mestrado. Faleceu em 2011, após uma crise cardíaca durante uma reunião da Comissão de Acompanhamento do Programa Nuclear Brasileiro, na sede da SBF.

O Governo do Estado prorrogou até 30 de junho o prazo para apresentação de propostas de empresas, cooperativas, startups, municípios e outras organizações que buscam financiamento para projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D). A chamada pública envolve recursos da ordem de R$ 20 milhões não reembolsáveis do Fundo Paraná, dotação gerenciada pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) para o fomento científico e tecnológico paranaense.

A iniciativa tem amparo no Programa de Estímulo às Ações de Integração Universidade, Empresa, Governo e Sociedade, denominado Agência de Desenvolvimento Regional Sustentável e de Inovação (Ageuni). Serão apoiados projetos em cinco áreas: agricultura e agronegócios; biotecnologia e saúde; energias renováveis; cidades inteligentes; e economia, educação e sociedade. As propostas devem ser fundamentadas na transformação digital e no desenvolvimento sustentável.

Do montante anunciado, R$ 6 milhões serão destinados para microempresas e empreendedores individuais; R$ 4 milhões para empresas de pequeno e médio porte, e R$ 5 milhões para grandes empresas. Outros R$ 5 milhões serão aplicados em projetos apresentados por municípios, cooperativas e outras organizações com e sem finalidade lucrativa. Cada projeto pode ter o valor máximo de até 10% do total previsto para a respectiva categoria.

Segundo o coordenador de Ciência e Tecnologia da Seti, Marcos Aurélio Pelegrina, o intuito é incentivar o desenvolvimento socioeconômico, agregar tecnologia aos processos de produção de bens e serviços e aumentar a competitividade empresarial paranaense.

“No Estado do Paraná, entendemos que o investimento em ciência e tecnologia é uma estratégia competitiva que pode diferenciar as nossas empresas nos mercados local, regional e até nacional, permitindo que esses agentes produtivos cresçam e se desenvolvam em um ambiente cada vez mais inovador”, diz Pelegrina. “Nós acreditamos que a tecnologia pode e deve ser usada como uma ferramenta para atender as necessidades e as demandas dos cidadãos e dos consumidores em geral”, destaca.

CRITÉRIOS – Entre os critérios para receber o apoio financeiro do Estado, os proponentes devem ter registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) no Paraná e articular as propostas com as unidades da Ageuni nas universidades estaduais. A duração dos projetos será de dois anos, com possibilidade de prorrogação por mais seis meses. Os projetos de P&D serão financiados por meio de acordos de parceria e cooperação estabelecidos com as instituições estaduais de ensino superior.

Confira os câmpus acadêmicos onde estão localizadas as unidades da Ageuni:

Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Londrina – ageuniaintec@uel.br

Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Maringá – ageuni@uem.br

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Ponta Grossa – ageuni.agipi@uepg.br

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)

Cascavel – ageuni@unioeste.br

Francisco Beltrão – ageuni@unioeste.br

Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro)

Guarapuava – ageuni.novatec@unicentro.br

Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)

Jacarezinho – ageuni@uenp.edu.br

Universidade Estadual do Paraná (Unespar)

Campo Mourão – ageuni2campomourao@unespar.edu.br

Paranaguá – ageuni1paranagua@unespar.edu.br

Dois temas bem curiosos: fungos e matemática. Eles são o foco do Conexão Ciência – C², desta semana. O projeto é uma das iniciativas do NAPI de Educação para a Ciência e Divulgação Científica, financiado pela Fundação Araucária. O objetivo é criar a Rede Paranaense de Popularização da Ciência, a Repopar, com o apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).

“Reino Fungi, o nosso malvado favorito” e “Matemática? Não, curiosidade, estratégia e diversão”, que foram publicadas dia 13 de abril, são os títulos das reportagens do C², uma iniciativa dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI) e financiada pela Fundação Araucária. O projeto tem como objetivo a criação da Rede Paranaense de Divulgação Científica e agrupando as Instituições Estaduais de Ensino Superior (IEES).

A série “The Last of Us” lançada no começo do ano de 2023, trouxe o enredo sobre fungos. O Cordyceps sofre uma mutação e passa a contaminar os seres humanos. Baseado neste roteiro, os telespectadores começaram a ter dúvidas se os fungos existiam ou se era possível a contaminação humana. Com o objetivo de desmistificar o tema, professores pesquisadores responderam essas e mais perguntas na reportagem sobre o Reino Fungi.

Saindo do ramo de biológicas e indo para de exatas, uma reportagem fala de propostas que podem resolver a forma cansativa de aprender matemática transformando em divertida, por meio de jogos e materiais manipulativos. Alguns destes laboratórios é o Matemativa – Exposição Interativa de Matemática, que contém um espaço físico no Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) no campus sede da UEM e divulga exposições em eventos culturais e científicos de Maringá e região. O MUDI fica aberto de terça a sexta e domingo, de 8h às 11h e 14h às 17h.

Acesse o Conexão Ciência e divirta-se!

Cada vez que um pesquisador atualiza seu currículo na Plataforma Lattes, mesmo que inconscientemente, está rendendo uma homenagem a César Lattes (1924/2005), um dos mais famosos e brilhantes cientistas brasileiros de todos os tempos e que revolucionou o estudo da Física no país. Nós aqui do Paraná Faz Ciência também celebramos a vida e a obra de Lattes, ainda mais por um detalhe que nos enche de orgulho e alegria que é o fato de Cesare Mansueto Giulio Lattes ter nascido em Curitiba, no dia 11 de julho de 1924. 

Caso tivesse vivido em nossa época, Lattes não teria deixado o Paraná para buscar seu primeiro diploma, aos 19 anos, no departamento de Física da Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo (USP). O brilhantismo e dinamismo do jovem apaixonado pela física e matemática encantaram professores e pesquisadores da época, que o encaminharam para Londres, sem mestrado ou doutorado, para a carreira promissora e inovadora que, hoje, conhecemos e reverenciamos. 

Foi a partir da graduação que se revelou a resiliência, a determinação e o espírito inquieto e curioso que todo cientista carece para inscrever seu nome na história da ciência. Aos 23 anos, já morava e trabalhava em Londres integrando a equipe do Laboratório H. H. Wills, Universidade de Bristol, que era comandado pelo físico Cecil Powell (1903/1969). No final dos anos 1940, César idealizou, em La Paz, na Bolívia, um laboratório de Física Cósmica, onde estudou os raios cósmicos. Em pouco tempo, o espaço se transformou em centro científico internacional, abrigando pesquisadores de quase todos os continentes. 

César Lattes, do CBPF, um dos principais físicos brasileiros, dando uma palestra no Instituto de Física, da PUC-Rio.
Fonte: Núcleo de Memória da PUC-Rio / Acervo Prof. Paulo Novaes. Disponível aqui
César Lattes em Chacaltaya, Bolívia.
Fonte: Homenaje a Cesar Lattes. Universidade Mayor de San Andrés. Facultad de Ciencias Puras y Naturales. Disponível aqui
Em Princeton, 1949: César Lattes, Hideki Yukawa e Walter Schutzer (em pé, a partir da esquerda); Hervásio de Carvalho, José Leite Lopes e Jayme Tiomno (abaixados). Arquivo Jayme Tiomno Fonte: Pesquisa Fapesp. Disponível aqui

Ali, em Chacaltaya, o paranaense testou a hipótese de suas pesquisas e identificou a partícula responsável pelo comportamento das forças nucleares, batizada méson pi (ou píon). Mesmo sendo autor do primeiro artigo sobre a descoberta, na revista científica Nature, o Prêmio Nobel de Física de 1950 foi concedido a Powell, líder do estudo, segundo regras da época da Academia Sueca de Ciências, Fisiologia e Medicina. Em 1946 e 1948, pesquisas em que Lattes participou também já tinham batido na trave no Nobel. Ao todo, foram sete indicações. 

Mesmo sem o prêmio, a comunidade científica internacional reconheceu o feito de Lattes, que não desanimou. Dando prosseguimento aos estudos, ele calculou a massa do méson pi e foi trabalhar em Berkeley, na Califórnia. Nos Estados Unidos, ao lado do seu colega norte-americano Eugene Gardner (1913/1950), Lattes identificou as trajetórias dos píons produzidos no acelerador de partículas da Universidade da Califórnia. 

Construtor da ciência

Casado com a matemática pernambucana Martha Siqueira Neto, com quem passou 57 anos e teve quatro filhas, César Lattes decidiu, em 1949, rejeitar um convite para se professor de Física, em Harvard, nos Estados Unidos, e fixou residência no Brasil, alternando sua atuação entre Campinas e Rio de Janeiro. Liderando um renomado grupo de cientistas, seu objetivo era ajudar a recuperar o atraso do país na área da Física, já que não havia grandes institutos de ensino, pesquisa e fomento.

Encontro da família no Natal de 1993: César Lattes com a mulher Martha Siqueira e os netos. Foto: BPF/Arquivo. Disponível aqui

Ainda em 1949, Lattes escreveu em uma carta ao colega José Leite Lopes (1918-2006): “Prefiro ajudar a construir a ciência no Brasil do que ganhar um Nobel”. Nessa época, além de fundar o Centro Brasileiro Pesquisas (CNPq) e o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Lattes chamou Hideki Yukawa para a colaboração Brasil-Japão de Raios Cósmicos (CBJ). O físico japonês foi o vencedor do Nobel de Física, em 1949, pela sua previsão teórica. Assim, Lattes começava a carreira do professor e pesquisador em solo brasileiro. 

Para quem deseja conhecer mais detalhes da personalidade e das façanhas deste paranaense, a trajetória de César Lattes está contada em livros, documentários e vídeos, que marcam a relevância dele para o desenvolvimento da ciência no Brasil. De todos os materiais disponíveis na internet, um vídeo publicado no canal do CBPF traz um raro registro de uma palestra de Lattes, no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) com o amigo e pesquisador José Leite Lopes, realizada em 1995. 

Ao ouvir e ver como pensava, podemos ter a certeza da importância que fez o CNPq e seus pares ao nomearem, em 1999, de Plataforma Lattes a ferramenta virtual que transformou completamente as atividades de fomento, gestão, planejamento e avaliação do fazer científico no Brasil. Atualmente, o site reúne cerca de sete milhões de currículos e informações de aproximandamente 40 mil grupos de pesquisa

Hoje, é possível encontrar o nome de César Lattes em bibliotecas, laboratórios e até em ruas, como em Campinas e Rio de Janeiro. No Paraná, Curitiba e Maringá também já o homenagearam. Mesmo sem Nobel, com certeza, Lattes fez muito pela ciência no Brasil, servindo de inspiração para tantos pesquisadores, agora e para sempre.

De tudo, fica apenas a fina ironia do destino: César Lattes morreu em 2005 sem ter montado o próprio ‘Lattes’. 

Capa da revista Science News Letters destacando o físico brasileiro César Lattes e o norte-americano Eugene Gardner, no sincrocíclotron de 184”. Fonte: Sciece News Letters. Disponível aqui
Registros nos diagramas de alvo das coordenadas dos traços dos mésons negativos encontrados na emulsão tipo C2, em 21 de fevereiro de 1948, por César Lattes. Disponível aqui
Arranjo para captura de mésons positivos que apresentou os melhores resultados. Detalhe nas iniciais do nome de quem sugeriu o arranjo. CMGL correspondem a Cesare Mansueto Giulio Lattes. Em 3 de abril de 1948. Disponível aqui

“A História é a mais importante das ciências”. A constatação é do físico Erwin Schrödinger (1887/1961), para quem, sem ela (a história), não saberíamos da ciência, como foi pensada, testada ou aplicada por seus protagonistas. A ideia do teórico austríaco nos ajuda a conhecer e entender a trajetória da vida e o resgate da obra do filósofo e matemático paranaense Newton da Costa.

Nascido em Curitiba, em 1929, Newton Carneiro Affonso da Costa criou do zero o que hoje entendemos como a lógica paraconsistente, teoria original que abriu caminho a uma nova concepção para ver e pensar o mundo, levando em conta as contradições. Ele não apresenta apenas uma, mas uma hierarquia de lógicas, infinitas lógicas paraconsistentes, inscrevendo seu nome na Filosofia da Ciência em grande estilo e inspirando muitos pensadores e pesquisadores a desenvolverem vários desdobramentos da teoria. 

Primeira Semana Brasileira de Filosofia, 1952. Newton da Costa é o segundo à direita e Miguel Reale o quinto (Acervo Newton da Costa). Disponível em aqui.

O caminho para se tornar uma referência internacional começa ainda em casa, convivendo com pessoas da família e conhecidos que despertaram no jovem o prazer e curiosidade pelas letras e artes. Formou-se em engenharia, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1952, mas ainda estava à procura da verdadeira paixão: a matemática. Para ele, a matemática e a lógica são instrumentos para entender o que é o conhecimento científico. Ao terminar a licenciatura em matemática, virou professor e pesquisador em tempo integral na UFPR, onde concluiu seu doutorado e tornou-se catedrático.

Newton da Costa aos 90 anos.
Disponível em Conexão Ciência

Nos anos 1960, migrou para o Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME/USP) e, depois, passou dois anos na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), como professor titular nas duas instituições. Ainda nas décadas de 1960 e 1970, Newton da Costa, primeiro em Curitiba e depois em São Paulo e Campinas, desenvolveu e criou um grupo de pesquisadores que se notabilizaram como grandes lógicos no cenário internacional. A contribuição dele ao sistematizar a paraconsistência é fundamental e muito interessante porque não invalida a lógica tradicional e nem abandona os preceitos clássicos. 

Para dar conta de dilemas e paradoxos, a proposta dele foi trabalhar com situações e opiniões contraditórias, ao invés de descartá-las. Para chegar onde queria, Costa quis estudar a fundo a filosofia como forma de distinguir o que é o conhecimento em geral, se há conhecimento metafísico e, por extensão, o científico. 

Hoje, passando dos 90 anos, Newton da Costa continua ativo, engajado e profundamente apaixonado pela ciência, sendo reconhecido no Brasil e exterior como autor de uma teoria original criada a partir de 1958, mas muito citada e aplicada de 1976 para frente, quando finalmente ganhou o nome pelo qual ficou conhecida, a lógica paraconsistente. Costa passou a ser reconhecido como o ‘pensador da contradição’.

Graças ao seu trabalho e o reconhecimento da comunidade científica, passou por instituições da Austrália, França, Estados Unidos, Polônia, Itália, Argentina, México e Peru, seja como professor visitante ou pesquisador. Possui mais de 200 trabalhos publicados: artigos, capítulos e livros. Entre outros prêmios, ganhou o Moinho Santista e o Jabuti, em Ciências Exatas. 

Capa do livro “Logique Classique et Non-Classique”, editado em Paris, 1997.
Capa do livro “Godel’s way – Exploits into an undecidable world”, editado nos Estados Unidos, 2011.
Capa do livro “Para Além das Colunas de Hércules, uma História da Paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa”, editado no Brasil, 2017.

Inspiração para as novas gerações

Com essa pujante trajetória, não é de se admirar que Newton da Costa continue a angariar a admiração e respeito de pesquisadores do mundo inteiro, mais ainda no seu país e, também, no estado de nascimento. É tamanha a importância que o professor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Paraná, Evandro Gomes, mostrou essa trajetória no livro “Para Além das Colunas de Hércules, uma História da Paraconsistência: de Heráclito a Newton da Costa”, resultado do doutorado em coautoria com a professora Itala Loffredo D’Otaviano, da Unicamp. 

“O título do livro alude à criação das lógicas paraconsistentes que se assemelha ao trabalho de Hércules, pois diversos autores, especialmente Newton da Costa, foram além dos limites conhecidos da logicidade, abrindo novos horizontes para a humanidade em sua aventura pelo conhecimento”, destaca Gomes em entrevista ao site Conexão Ciência.

O professor da UEM conviveu com o Newton da Costa de 1997 a 2003, período em que fez mestrado na USP. Segundo a pesquisa, o primeiro sistema lógico paraconsistente é apresentado pelo polonês Stanisław Jaśkowski (1906-1965), em 1948. Ele que foi, de fato, o primeiro a formular claramente a ideia da lógica paraconsistente, mas foi Newton da Costa, trabalhando com discípulos de Jaśkowski, quem sistematizou definitivamente as teorias do colega polonês, nos anos 1960 e 1970, ajudando-o a desenhar o pensamento proposto.

O livro, que, às vezes, pode ser confundido com um título sobre mitologia grega, recebeu Menção Honrosa no Prêmio Abeu 2018 e foi finalista, na categoria Ensaio Humanidades, do Prêmio Jabuti 2018.

Para nós do Paraná Faz Ciência, é uma grande honra registrar e reverenciar a trajetória de vida de Newton da Costa, que continua a arrebatar corações e mentes de pesquisadores da mesma forma como fazia há 60 anos. Para além da sua obra, a paixão pela ciência é o seu legado mais inspirador. 

A coisa não é tão tensa, a tal da matemática não desgruda e é top

É isso mesmo. A Física estuda o que acontece na natureza, suas leis, teorias e faz a gente entender o porquê de muita coisa que perguntamos desde criança. 

Os chamados fenômenos naturais estudados pela Física acontecem o tempo todo, em qualquer lugar, na nossa vida, no planeta e em outras galáxias próximas ou distantes. É muito punk porque ela é capaz de explicar todo o universo, no passado, no presente e até no futuro! 

Se você curte essa vibe, entenda um pouco mais sobre as possibilidades que a Física tem com a 10/10 Mariana Ferrareze Casaroto, no Hora da Ciência. No vídeo, ela explica direitinho o que é a profissão, a diferença entre licenciatura e bacharelado, as áreas de pesquisas da Física e, claro, fala também da pesquisa que faz no doutorado.  

Atenção! Aqui vale um spoilerzinho. No final da apresentação, Mari comenta e lamenta como ainda são poucas as meninas que fazem Física. Confere no canal do youtube do Conexão Ciência.

Detalhe. Mari só tem 24 anos. Já se formou, fez mestrado e está no doutorado. Detalhe do detalhe… No colégio, ela falava em fazer  educação física. Só no terceirão que ela decidiu fazer Física. Normal. 

Achou pouco o que essa menina faz e já fez? Então segura mais uma. Mari é musicista e tem uma banda de pop rock formada só por meninas chamada Sweet Poison. Curte lá. 

Para entender melhor o que rola por aqui, o Conexão Ciência é um projeto da Universidade Estadual de Maringá, que fala tudo o que os cientistas da UEM fazem por lá. 

O Hora da Ciência é uma série de lives, produzidas pelo C², para crianças e jovens curiosos entenderem como é bacana conhecer sempre mais e, quem sabe, se tornarem cientistas também.

Outra info bacana é saber que, todo mês de outubro, o Paraná comemora a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia. Na última edição, em 2021, o Hora da Ciência apresentou lives fáceis de entender sobre várias áreas. Se liga. Esse ano tem mais. 

Depois de conferir o vídeo da Mariana falando sobre Física, bora stalkear o C², o Hora da Ciência e contar pra galera. Partiu.

Confira aqui o vídeo do Hora da Ciência e saiba mais sobre a física

Papo sério sobre a Mari

Bacharela e Licenciada em Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Cursando o doutorado na área de Física da Matéria Condensada (UEM). Pesquisa no grupo de Teoria de Fluidos Complexos, sob orientação dos professores Rafael Soares Zola e Rodolfo Teixeira de Souza, com financiamento da CAPES. Tem experiência em Física dos Cristais Líquidos, atuando com problemas de efeito de superfície em amostras confinadas e simulações de Monte Carlo.