Na UTFPR de Curitiba, professores da Matemática estão há cinco anos produzindo e publicando videoaulas na internet como estratégia de ensino e aprendizagem
A compreensão de que a divulgação científica é o caminho para a popularização da ciência e, ao mesmo tempo, uma estratégia para melhorar o aprendizado de estudantes da Educação Básica, passando pelo Ensino Médio até ao Superior, já é consenso entre gestores e professores para a democratização do conhecimento.
Um dos exemplos de iniciativas que mobilizam metodologia e conhecimento científico, noções de produção de conteúdo e muita disposição para aprender e ensinar, vem do Departamento de Matemática da Universidade Tecnológica Federal do Paraná do campus Curitiba (UTFPR-CT).
Iniciado em 2019, o Projeto de Extensão Acervo de Videoaulas de Matemática (ACERMAT) tem como objetivo a produção de videoaulas de Matemática de curta duração, organização das produções em um banco de vídeos para futuras consultas do público em geral, como proposta fundamentada nos Recursos Educacionais Abertos (REA), e disponibilizado no Youtube.
Destaca-se também nesta iniciativa a formação inicial e continuada de professores em atividade profissional. Além disso, é uma forma de facilitar a implementação de metodologias ativas, como a sala de aula invertida, para auxílio do ensino de Matemática.
A coordenadora do ACERMAT, professora Edna Sakon Banin, relembra como o projeto começou e que, de certa forma, foi incrementado durante a pandemia: “Inicialmente, começou com uma ideia de desenvolvimento profissional docente que a Pró-Reitoria de Graduação estava ministrando para os professores. Aí veio a pandemia e nós precisávamos de videoaulas, mas que fossem ‘diferentes’, para reforçar alguns conteúdos e conceitos”.
Edna afirma ainda que já há muitas aulas de Matemática na internet, mas a ideia central do ACERTMAT é ir além. Com os conhecimentos sobre Cinematografia aplicada ao ensino-aprendizagem do professor do departamento Henrique Oliveira da Silva, eles produziram uma metodologia própria para a roteirização, captação de imagens, edição e distribuição.
“Ao propor um modelo diferente de conteúdo, não estamos dizendo que tudo que tem na web não seja bom. Mas o nosso diferencial é que um professor está apresentando o conteúdo, discutido e roteirizado, sempre com a linguagem adaptada para o público alvo”, ressalta.
Dentro da proposta de Ciência Cidadã, o ACERMAT também recebe dos professores da Rede Estadual de Ensino demandas de conteúdo. A partir deste ano, o Projeto de Extensão se transformou num Programa e o grupo já está produzindo videoaulas numa versão para o ensino superior, ampliando ainda mais a sua abrangência.
Reflexão
Todo o trabalho de cinco anos foi base para o ‘Workshop: A Transformação Digital na Educação e a Divulgação Científica’, realizado entre 7 e 9 de maio, que reuniu professores e alunos de várias graduações, além da Matemática, para refletir sobre o projeto e definir novas perspectivas para os próximos anos.
Já na abertura, o professor Henrique de Oliveira da Silva, que está desde o início do projeto de extensão, fez questão de enfatizar o processo desenvolvido por eles. “Toda a produção do ACERMAT não é simplesmente chegar lá, pegar um celular e gravar um vídeo para colocar no YouTube. Ele tem toda uma metodologia por trás, tem todo um princípio pedagógico do conceito de formação e de educação que há nas universidades”, acrescenta.
Ainda segundo o professor, os vídeos são construídos para facilitar o aprendizado e fixar o conhecimento. “Criamos ali um formato onde o professor, o conteúdo e o tradutor em Libras estão em destaque, porque todo o nosso material é adaptado para ser inclusivo”.
Diferente dos videoaulas para o Ensino a Distância (EAD), o material produzido é direcionado para um grupo pertencente a uma instituição de ensino, pública ou privada. As videoaulas do ACERMAT estão na web, contribuindo para a melhoria do aprendizado dos estudantes e, também, para a formação de uma nova geração de professores de Matemática que já saem da universidade conscientes e preparados para atender a demandas que a Cultura Digital impõe à Educação.
Oficinas
Além da discussão teórica, o evento também organizou três oficinas para que os participantes compreendessem o processo de produção das videoaulas: Roteirização, Captação de Imagem e Edição de Vídeo. Esta última contemplou questões de Distribuição dos vídeos. Para os participantes, o primeiro aprendizado foi que os vídeos não são a ‘memória’ de uma aula, mas um aprofundamento de um conceito matemático.
A professora Angelita Minetto Araújo é responsável pelos roteiros do projeto que são pensados e escritos numa atividade coletiva e colaborativa. “Professores e alunos participam da definição do conteúdo, roteirização, captação de imagens e edição, tudo para explicar os princípios de cada conceito. Neste projeto, estamos todos aprendendo juntos, construindo um acervo que está a disposição da população, ao invés do simples ‘decoreba’”, salientou durante a oficina sobre Roteiros.
Neste sentido, o Departamento de Matemática da UTFPR e o seu Programa ACERMAT já estão antecipando uma tendência em priorizar a formação de docentes preparados para incluir tecnologias em seus planos de aula, uma prática que deve se espalhar por outras licenciaturas pelo país.
Tanto é importante pensar esta formação específica dos novos professores e pesquisadores, que a própria Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) já exige projetos de pesquisa que incluem um plano de divulgação científica para receberem apoio financeiro da fundação. Este plano deve detalhar como os resultados da pesquisa serão divulgados ao público, incluindo estratégias para alcançar diferentes públicos-alvo e utilizar diversos canais de comunicação.
Alcance
Para o aluno de licenciatura em Física, Luiz Eduardo Muchalski Martins, que participou do workshop do ACERMAT, estar há um ano na universidade promoveu um choque de realidade.
“Aqui vejo diversos projetos de extensão, pesquisa, muita produção para o ensino de Física, e me pergunto por que eu não era atingido por tudo isso quando estava no ensino médio”, lamenta.
Na sua opinião, “tudo me faz parecer que a produção fica tão fechada nessas quatro paredes da universidade, que o desafio é saber como conseguir expandir esse material para todos”.
Não seria o caso de incluir os Fundamentos da Divulgação Científica no currículo das graduações do Ensino Superior? Esta foi a principal reflexão do workshop que coloca em alerta todos os que acreditam que é papel da universidade contribuir para uma verdadeira Transformação Digital e a construção de uma Cultura Digital que há décadas se discute no país.