Estudo da UEPG: Brasileiro é o mais empático do mundo e um dos com maior medo da Covid-19

Até que ponto a confiança em governos modera o medo da Covid-19 e a empatia da população? É o que o artigo publicado no periódico Communications Psychology, do grupo Nature, busca responder. Entre os 34 países investigados, o Brasil desponta como o que tem mais empatia pelo próximo. Em paralelo, a população é uma das que mais sentiu medo da Covid-19 e com menos confiança no governo à época da pandemia. A pesquisa brasileira foi conduzida pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O brasileiro é o povo mais empático das pessoas analisadas. O artigo revela uma pontuação de 6,00, superior a países como Portugal, México e Chipre. Quando o assunto era medo da Covid-19, o Brasil atingiu 2,97 pontos, número atrás apenas do Vietnã (3,04) e Filipinas (3,31). A pesquisa com brasileiros ficou por conta da UEPG, por meio da professora Milene Zanoni, do Departamento de Saúde Pública e chefe do Ambulatório de Saúde Integrativa; com coordenação dos pesquisadores do projeto ‘Abordagens transculturais e multidimensionais do impacto da Covid-19 – Brasil’, da UFPR.

Para Milene, há diversas razões que podem ter causado medo e desconfiança da população. Uma delas foi a falta de transparência, comunicação inconsistente e desinformação por parte do Governo Federal. “Outro ponto crucial foi a gestão inadequada da crise sociossanitária na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, como a ausência de políticas públicas consistentes para o enfrentamento da Covid-19, o número catastrófico de casos e mortes, atrasos nas respostas do poder público e falta de recursos adequados”, explica.

Os pesquisadores cruzaram dados coletados em 2021 e procuraram esclarecer as razões pelas quais as pessoas cumprem (ou não) atividades cooperativas em grande escala. O estudo investiga os motivos implícitos ao apoio aos comportamentos preventivos da Covid-19, numa amostra de 12.758 pessoas. “Para muitas pessoas, a perda de entes queridos, o próprio adoecimento ou o impacto econômico da pandemia, aumentou o medo e a desconfiança em relação à capacidade do governo de proteger a população”, aponta a professora, que ressalta a polarização política e as disputas partidárias em torno das medidas de combate à pandemia. “Isso pode ter levado a uma percepção de que o governo estava mais preocupado com interesses políticos do que com a saúde e segurança da população”.

O artigo menciona que, quando há pouca confiança no governo, os indivíduos duvidam se o cumprimento individual das medidas de saúde pública produzem algum benefício. O estudo mostra que o Brasil teve 1,62 pontos de confiança no governo (entre 1 a 5 pontos), índice considerado baixo. Dos mais de trinta países pesquisados, os brasileiros só não desconfiaram mais do que México (1,59), Polônia (1,57) e Honduras (1,52).

É difícil prever com certeza como os níveis de desconfiança e medo mudaram agora que a pandemia acabou, conforme explica Milene. “Mas é possível pensarmos na hipótese de que possam ter diminuído à medida que a situação de saúde pública melhorou e as restrições relacionadas à pandemia estão mais relaxadas”. A professora levanta a possibilidade de que, com a disseminação controlada do vírus, o avanço da vacinação e as restrições suspensas, é provável que o medo direto da Covid-19 tenha diminuído. “É importante destacar que níveis de desconfiança e medo podem persistir mesmo após o fim da pandemia, especialmente em casos em contextos socioambientais e econômicos vulneráveis, relacionado a pobreza, fome e condições indignas”.

Campeão de empatia

Apesar dos sentimentos mais ao lado negativo, o brasileiro é empático em níveis maiores do que os outros 33 países analisados. “A resiliência individual e comunitária é estimulada em tempos de crise e adversidade, o que é algo intrínseco em todas as pessoas”, acrescenta a docente. Evolutivamente, comunidades mais empáticas e com maior apoio mútuo sempre foram as que sobreviverem, resistiram e seguiram em frente, conforme explica Milene. “Isso é o que nos compõe como civilização. A pandemia levou as pessoas, em especial mulheres, pobres, favelados, negras, indígenas, PCDs, LGBTQIAPN+ e pessoas idosas ao extremo. A iminência da morte e da crise emana algo muito profundo e intenso no ser humano em favor da vida”, completa.

O artigo completo pode ser visto na íntegra aqui.

Texto: Jéssica Natal | Fotos: Luciane Navarro

Fonte: UEPG