No dia em que se celebra a Proteção às Florestas, 17 de julho, o Paraná Faz Ciência destaca a pesquisa realizada pela Rede MapBiomas, formada por universidades, startups de tecnologia e ONGs, que revelou como as mudanças de uso e cobertura da terra afetam os estoques de carbono orgânico do solo ao longo dos últimos 37 anos. Um dos destaques do levantamento é a informação de que a Mata Atlântica e o Pampa são os biomas que mais estocam carbono por hectare.
Esses estudos coordenados pelos professores da UTFPR, Alessandro Samuel-Rosa (Campus Santa Helena) e Taciara Zborowski Horst (Campos Dois Vizinhos) analisaram os mapas anuais do solo brasileiro de 1985 a 2021. Além disso, foram coletadas 9650 amostras de estoque de carbono no campo.
Segundo a publicação, divulgada no dia 21 de junho, do total de 37 bilhões de toneladas (gigatoneladas – Gt) de carbono orgânico do solo (COS) existentes no Brasil em 2021, quase dois terços (63%) estão estocados em solos sob cobertura nativa estável (23,4 Gt COS). Apenas 3,7 Gt COS estão estocados em solos de áreas que foram convertidas para uso antrópico desde 1985. Mais da metade (quase 20 Gt COS) fica na Amazônia. Mas quando se analisa o estoque médio de COS por hectare, Mata Atlântica e Pampa se destacam com os maiores valores: média de 50 t/ha e 49 t/ha, respectivamente, enquanto na Amazônia este valor é de 48 t/ha. Os menores estoques são encontrados na Caatinga (média de 31 t/ha).
Entre 1985 e 2021, a quantidade de carbono estocado no solo coberto por floresta no Brasil reduziu de 26,8 Gt para 23,6 Gt. “Isso significa que o carbono neste solo, agora sob agricultura, pode ser mais frágil e assim ser perdido se o manejo do solo agrícola não for conservacionista”, explica o professor Alessandro Samuel-Rosa.
Segundo o professor Alessandro, o diferencial do novo estudo está no fato dos levantamentos serem anuais. “Temos os mapas anuais de uso da terra de 37 anos, o que nos destaca perante os materiais anteriores. Ou seja, temos 37 mapas de pesquisa dos estoques de carbono do país. O mapeamento foi realizado com base em bancos de dados abertos, algoritmos de aprendizado de máquina e computação em nuvem”, completa.
“Essa iniciativa visa desvendar a evolução dos recursos do solo ao longo do tempo e do espaço, adotando uma abordagem científica aberta e colaborativa. Ainda é uma versão beta, sujeita a muitos aprimoramentos, mas é um avanço importante no mapeamento digital de solos e oferece subsídios valiosos para a conservação e uso sustentável do solo no Brasil”, afirma a pesquisadora Taciara Horst.
A publicação está disponível no site do MapBiomas.
Por biomas
Amazônia: em termos absolutos, possui o maior estoque de COS do Brasil, com 19,8 Gt em 2021. Desse total, 87% (17,4 Gt COS) ficam em áreas naturais. As áreas antrópicas, por sua vez, armazenam apenas 2,4 Gt COS. Embora o estoque médio por hectare do bioma seja de 48 t/ha, essa média sobe para ~50 t/ha no caso das formações florestais. Nas áreas de pastagem, estima-se estoque de ~40 t/ha.
Cerrado: a savana mais biodiversa do planeta e segundo maior bioma do país armazenava 8,1 Gt COS em 2021 – 3,8 Gt COS nas áreas antrópicas e mais da metade (4,3 Gt COS) em áreas naturais. A Formação Savânica apresenta o maior estoque médio ~39 t/ha.
Mata Atlântica: em 2021, o estoque de carbono no solo deste bioma somava 5,5 Gt COS em 2021. Desse total, as áreas naturais respondem por 2,1 Gt COS. As áreas antrópicas, por sua vez, armazenam 3,4 Gt COS. A diferença em favor das áreas antropizadas reflete o alto grau de desmatamento do bioma: analisando o tipo de cobertura da terra, porém, constata-se que a Formação Florestal apresenta o maior estoque médio: ~56 t/ha. Enquanto nas áreas de agricultura, o estoque é de ~49 t/ha.
Pantanal: a maior área úmida continental do planeta armazenava 0,6 Gt COS em 2021. Ao todo, o bioma armazenava 0,6 Gt de COS em 2021 – a quase totalidade (0,5 Gt COS) em áreas naturais. As áreas antrópicas respondem por 0,1 Gt COS. A Formação Campestre apresenta o maior estoque médio: ~38 t/ha. Em áreas de pastagem, observa-se estoque de ~28 t/ha.
Pampa: armazenava 0,9 Gt COS em 2021. Mais da metade desse total (0,5 Gt COS) estão em áreas naturais, com a Formação Campestre respondendo por ~51 t/ha. Nas áreas de agricultura, observa-se estoque de ~53 t/ha. Outras áreas antrópicas, por sua vez, armazenam apenas 0,4 Gt COS.
Caatinga: é o menor estoque de carbono do Brasil na média por hectare. Quase dois terços desse total (63%, ou 1,7 Gt COS) estavam armazenados em áreas naturais. As Formações Savânica e Campestre apresentam o maior estoque médio ~31 t/ha. Já as áreas antrópicas armazenam 1,0 Gt COS.
Solo
O solo é um dos quatro grandes reservatórios de carbono do planeta, junto da atmosfera, os oceanos e as plantas, que absorvem carbono em seu processo de crescimento. Se estoca carbono orgânico, o solo quando em estado de degradação pode liberar o elemento para a atmosfera na forma de gás carbônico e metano, agravando as mudanças do clima. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), um terço dos solos do mundo está moderada ou altamente degradado e a erosão do solo, que arrasta entre 20 e 37 bilhões de toneladas da camada superior do recurso anualmente, reduz a capacidade do solo de armazenar e reciclar carbono, nutrientes e água.
Rede Mapbiomas
O MapBiomas é uma iniciativa multi-institucional que tem como foco monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, Indonésia e territórios sensíveis da América do Sul. Atualmente possui uma plataforma atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra, disponível no mundo. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita.
O MapBiomas oferece uma completa série de mapas anuais de cobertura e uso da terra no Brasil, com 25 classes mapeadas desde 1985 em uma escala de 30 m de resolução, entre outros produtos de mapeamento.
Com informações da MapBiomas
Crédito da imagem: Decom