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Projetos de extensão e pesquisa motivam ações de combate ao câncer em comunidades carentes e quilombolas como forma de empoderamento das mulheres

Um grande problema de saúde da mulher, o câncer de colo de útero ou cervical é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina brasileira e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no país. Dados que motivaram projetos como o “Emprego da autocoleta/teste de HPV para o combate ao câncer cervical em mulheres com vulnerabilidade econômica e social em Maringá”, um dos 86 projetos desenvolvidos dentro do Programa Mulheres Paranaenses: Empoderamento e Liderança realizado pela Fundação Araucária e pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). 

A proposta prevê a realização da autocoleta com teste de Papilomavírus Humano – HPV como método de rastreio para o câncer cervical em mulheres carentes de Maringá, que não tenham realizado o exame de Papanicolau nos últimos quatro anos ou mais.

“Embora o exame de Papanicolaou (Pap) seja disponibilizado no SUS, muitas mulheres especialmente aquelas integrantes de comunidades carentes não participam desse programa, resultando em incidência desproporcionalmente elevada de casos e mortes decorrentes”, destaca a coordenadora do projeto e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM) Marcia Consolaro. 

Entre as ações do projeto está a capacitação de agentes comunitárias de saúde para irem às residências e fazerem a busca ativa destas mulheres. Elas darão a orientação para que as próprias pacientes façam a coleta do material que será enviado para a análise clínica. 

“O foco principal deste treinamento é instruir as agentes para que conheçam os sintomas, o tratamento e a importância da realização do rastreamento da doença. Para muitas mulheres o exame preventivo realizado no consultório é constrangedor então, no momento em que são sensibilizadas pelos agentes para a realização da autocoleta e para o conhecimento do seu corpo, elas conseguem entender melhor a necessidade de fazer o exame preventivo”, explica a pesquisadora responsável pelo treinamento dos agentes comunitários de saúde Sandra Marisa Pelloso.

O projeto desenvolvido em Maringá voltado a mulheres em situação de vulnerabilidade social é uma continuidade de uma ação inicial de autocoleta realizada em 2016 na cidade, também coordenado pela pesquisadora Marcia Consolaro, financiada pelo Ministério da Saúde em parceria com os Estados Unidos.

Também é um braço de um grande projeto nacional que envolve vários estudos com a mesma temática de forma simultânea em diversas instituições. Marcia Consolaro integra uma equipe organizada pelo Ministério da Saúde para o desenvolvimento de uma nova política nacional para a prevenção do câncer de colo de útero, que vai envolver a autocoleta baseada nos dados já levantados nos estudos realizados pela pesquisadora. 

Pacientes que já tiveram acesso à autocoleta entenderam a importância da ação. “Para mim a autocoleta é mais que um exame é uma forma de demonstrar meu amor próprio cuidando da minha saúde. É um exame capaz de prevenir o desenvolvimento do câncer de colo de útero de maneira prática e segura”, afirma uma paciente que preferiu não se identificar. 

O projeto também prevê o levantamento de dados para fomentar a implementação da autocoleta/teste de HPV dentro do padrão de cuidados prestados pelas unidades básicas de saúde de Maringá para mulheres carentes que não realizam o exame de Papanicolau.

“A autocoleta rompe várias barreiras como vergonha, medo, insegurança e desvinculação com o resultado. Esta mulher vai ser comunicada do laudo e, quando HPV positiva, será encaminhada a uma consulta médica. Então a mulher se sente muito mais pertencente à própria saúde. Isso trás o empoderamento da mulher porque ela vê que a própria saúde está nas mãos dela”, comenta a pesquisadora Marcia Consolaro. 

Na cidade da Lapa a pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcia Holsbach Beltrame desenvolve o projeto “Pesquisa e extensão no combate ao câncer de colo de útero em mulheres negras quilombolas do Paraná”. 

Nestas mulheres, muitas vezes, o câncer de colo de útero é encontrado em fase mais avançada e acomete de forma mais agressiva se comparado aos casos em mulheres brancas. Entre os objetivos do projeto o grupo pretende conhecer melhor o desenvolvimento da doença, as lesões pré-câncer e o próprio vírus, que é o início do desenvolvimento destas lesões, para analisar as diferenças quando a doença atinge mulheres negras.

“São ações de triagem para o vírus HPV, no momento do exame ginecológico que é uma medida preventiva mas não há a testagem para infecção viral. Então vamos aproveitar este momento do exame para fazer um exame adicional que seria para a detecção do vírus HPV e da identificação do tipo viral para ele ser categorizado entre baixo risco ou de alto risco”, explica Marcia Beltrame.

“Esse resultado do exame seria disponibilizado para a médica e para a paciente e já serve como um indicativo sobre os possíveis cuidados futuros. O que pode auxiliar na prevenção do câncer”, completa. 

O estudo também pretende analisar a genética destas mulheres negras quilombolas. “A genética de cada pessoa responde de uma forma diferente. Não são todas as mulheres que são infectadas pelo vírus que vão desenvolver o câncer. Então buscamos marcadores genéticos que tornem algumas mulheres mais suscetíveis do que outras ao desenvolvimento do câncer”, comenta a pesquisadora.

Dentro das ações de extensão estão, ainda, campanhas de conscientização, em parceria com a Rede de Mulheres Negras do Paraná, sobre a importância da vacinação em crianças e adolescentes, para quem as vacinas são disponibilizadas, e sobre a necessidade dos exames preventivos em mulheres. 

“Eu acredito que o conhecimento empodera. Então como professora e como cientista eu acredito em promover o conhecimento como forma de empoderamento das mulheres. Este projeto leva um conhecimento sobre a saúde da mulher que te permite mudar o rumo da sua vida”, ressalta a pesquisadora.  

As mulheres no campo são tema da próxima reportagem desta série sobre o Programa Mulheres Paranaenses: Empoderamento e Liderança.  

Por Ticiane Barbosa