No Colégio Branca da Mota Fernandes, os estudantes pretendem realizar um foguete de garrafa PET
O Clube Paulo Sérgio Bretones, do Colégio Estadual Branca da Mota Fernandes, em Maringá, está animado com os planos de construir um foguete com garrafa pet. Composto por 29 estudantes do sexto ao nono ano, o clube se reúne todas as quartas-feiras, das 10h15 às 12h45, com o objetivo de estudar astronomia e iniciação científica.
A maioria dos participantes são meninas, mas o clube é composto por meninos também. Os estudantes decidiram homenagear o astrônomo Paulo Sérgio Bretones ao nomear o clube. Ele foi um nome importante na astronomia brasileira ajudando a difundir o ensino. “Ele faleceu ano retrasado (2023) e nós fizemos essa homenagem”, conta a professora coordenadora do clube, Telma Augusta Diniz.
A dinâmica do clube varia conforme a temática estudada. Existem momentos em que a prática é realizada primeiro, com propostas de desafios para os estudantes pensarem em casa e trazerem na próxima aula. A professora Telma chama de ‘sala de aula invertida’. “Quando a gente trabalhou sobre o primeiro homem a orbitar a Terra, por exemplo, eles tiveram que pesquisar em casa para entenderem melhor o que a gente ia trabalhar em sala”, explica. Ela busca também diversificar os meios de aprendizagem. “Eu trabalho muitos vídeos, animações e simulações”, complementa.
O clube desenvolve uma proposta em parceria com o clube das EstrELAS – um projeto de extensão do Polo Astronômico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), no câmpus de Campo Mourão. Essa iniciativa visa incentivar mais meninas e mulheres no campo das ciências exatas. “O foco principal das EstrELAS é a mulher na ciência e o nosso [Clube Paulo Sérgio Bretones] é a alfabetização científica”, define a professora Telma. A coordenação do clube EstrELAS fica a cargo da professora Dra. Camila Maria Sitko, da UTFPR.
Trabalhos realizados
No ano passado, em razão da licença especial, a professora Telma esteve afastada por três meses do clube. Os alunos então estudaram de forma mais teórica o sistema solar e o ângulo necessário para a construção de foguetes de canudo, com as aulas do professor de matemática, Julio Marcos Correia, responsável pelo clube neste período.
Com o retorno da professora às atividades, um dos exercícios realizados envolveu a importância da data comemorativa dos 64 anos do primeiro humano a orbitar a Terra, o astronauta russo Yuri Gagarin. Foram confeccionados os foguetes de canudos, uma atividade prática que envolveu, inclusive, uma competição entre os estudantes.
A professora Telma também retomou o tema do sistema solar nas aulas, refletindo sobre as características dos corpos celestes. Como atividade prática, eles criaram um jogo da memória: os estudantes pintavam e recortavam os papéis com os desenhos dos planetas e depois cada carta foi plastificada. “Os alunos criaram dicas para a dinâmica do jogo, por exemplo, ‘é o maior planeta do sistema solar’, e quem joga tem que achar entre os desenhos ali dispostos. Em caso de erro, são estimulados a explicar porque estava incorreto”, diz Telma.
O professor Julio colaborou também em um trabalho interdisciplinar envolvendo astronomia, matemática e física. Ele explicou escala e eles tiveram que resolver a seguinte situação: representar o Sol em escala usando uma bola de Pilates de 85 cm de diâmetro. O objetivo era entender como as escalas ajudam a visualizar dimensões astronômicas em objetos do nosso cotidiano.
A partir dessa escala, eles fizeram os tamanhos proporcionais de cada planeta do sistema solar, criando um modelo 3D. “Os estudantes utilizaram material reciclável, massinha de modelar, papel de revista e fita crepe para construir os planetas. Depois, forraram as peças com papel alumínio” explica a educadora responsável pelo clube.
Ao final, ainda surgiu uma questão: “como criar os anéis de Saturno?”. Os estudantes ficaram com esta tarefa de casa. A provocação nessa atividade é que os anéis de Saturno flutuam em torno do planeta, logo eles deveriam pensar em como construir uma réplica em que esses anéis ficassem também flutuantes ao redor de Saturno, sem tocá-lo.
Importância de fazer parte de um clube
Para a professora, a importância dessa iniciação científica está, principalmente, em retirar algumas concepções de senso comum, nem sempre corretas. “Alguns alunos não tinham nem noção do tamanho do Sol nem da Terra. Não sabiam que a estrela é redonda e que o Sol é uma estrela redonda”. Como professora de ciências, a educadora se diz feliz em ensinar o saber científico e ver que eles estão levando isso à frente e contando para os pais.
Além de gostar muito de astronomia, Telma explica como consegue trabalhar com interdisciplinaridade. A atividade da escala, unindo matemática e astronomia, foi um exemplo de como a relação entre as disciplinas colabora para o conhecimento dos estudantes. “De repente eles não teriam absorvido o conhecimento que tiveram de escala se fosse estudado somente na matemática. Com a atividade proposta, de montar um sistema solar, foi facilitado para eles, chamou a atenção e despertou a curiosidade dos alunos”, diz a professora.
Até o final do ano, os estudantes vão estudar a física que envolve o lançamento dos foguetes, entrando em leis de Newton e as leis de Kepler. Segundo Telma, não será apenas uma atividade lúdica. “Até chegar este momento, eles vão ter passado pelo caminho científico. O objetivo é utilizar esses aprendizados para que eles entendam qual ciência está por trás de cada evento, no momento em que forem realizar os lançamentos dos foguetes de garrafa pet”, defende a professora.
Outra ideia para o futuro é a viagem até a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ao câmpus de Campo Mourão. Os alunos vão visitar o planetário e participar de um ‘show da física’, com observação noturna voltada para o projeto da construção de foguete. Conforme Telma, “será uma observação guiada com dois telescópios e os professores da UTFPR, que são do polo astronômico, e vão acompanhar os alunos”, finaliza.