Inclusão social: LIBRAS amplia alcance do Paraná Faz Ciência

Com o apoio e profissionalismo de intérpretes de LIBRAS, o evento on-line Paraná Faz Ciência (PRFC), de 2021, ampliou significativamente o alcance dos painéis e palestras que integraram a programação da 18ª Semana Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Mais de dez profissionais vinculados a instituições de ensino paranaenses se revezaram na tradução das palestras, garantindo acessibilidade à comunidade de surdos que tem interesse pela ciência ou que ainda não tiveram oportunidade para conhecer as pesquisas mais profundamente.

Durante a primeira semana de outubro, o PRFC realizou 15 atividades entre painéis, palestras e lançamentos de projetos, reunindo dezenas de pesquisadores e convidados, além de mobilizar acadêmicos em todos os cantos do estado. Com o engajamento da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná (Seti), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Virtual do Paraná (UVPR) e Fundação Araucária, foi possível discutir temas fundamentais para o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e promover a pesquisa científica realizada em nossas instituições federais e estaduais de ensino superior.

De acordo com a pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade Estadual de Maringá (PEC/UEM) e coordenadora do PRFC, Débora de Mello Sant’Ana, “ao estabelecermos como prioridade a veiculação das atividades também em LIBRAS, mostramos a importância do caráter inclusivo do evento para levar a pesquisa científica produzida em nosso estado para todos os públicos”.

A LIBRAS é uma importante ferramenta de inclusão social e tornou o evento mais acessível aos surdos, beneficiando a comunidade em geral. Dados do IBGE, indicam que 5% da população brasileira usa LIBRAS como auxílio de comunicação. Esse número representa 10 milhões de pessoas, sendo que 2,7 milhões não ouvem nada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, até 2050, 900 milhões de pessoas podem desenvolver surdez no mundo.

O que é LIBRAS?

O nome LIBRAS é a sigla para Língua Brasileira de Sinais, um acrônimo, ou seja, uma palavra formada com as letras ou sílabas iniciais de uma sequência de palavras, pronunciada sem soletração das letras que a compõem. Para quem ainda não está familiarizado, LIBRAS é uma língua – não uma linguagem – de modalidade gestual-visual, que se exprime através da combinação de sinais e expressões faciais, as chamadas expressões não manuais. É um idioma não verbal, possuindo um alfabeto e estrutura linguística e gramatical própria. 

A partir do século XVI, mudanças na visão de que os surdos eram incapazes de serem educados formalmente acontecendo na Europa teve início uma luta pela educação desta população, na qual ficou marcada a atuação de um surdo francês, chamado Eduard Huet. Em 1857, Huet veio ao Brasil a convite de D. Pedro II para fundar, em 26 de setembro, a primeira escola para surdos do país, chamada, na época, de Imperial Instituto de Surdos Mudos, que, mais tarde, deu origem ao Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). 

A LIBRAS foi criada, então, junto com o INES, a partir de uma mistura entre a Língua Francesa de Sinais e de gestos já utilizados pelos surdos brasileiros. Por sua difusão e adesão, não só dos surdos como também de suas famílias e agregados, a língua se desenvolveu no país e, atualmente, pode-se afirmar que é genuinamente brasileira, permitindo que qualquer assunto ou discussão seja traduzido. Como toda língua, é viva, passa por atualizações constantemente e possibilita que todos possam se comunicar em qualquer tempo, sobre qualquer assunto.

Setembro azul

Por sua importância, em 2002, ganhou relevância e apoiadores junto aos legisladores e foi finalmente reconhecida como uma língua no país. Dois anos depois, em 2004, outra lei determinou o uso de recursos visuais e legendas nas propagandas oficiais do governo. 

Em 2008, um decreto formalizou o Dia Nacional dos Surdos como sendo 26 de Setembro, numa referência à fundação do Imperial Instituto de Surdos Mudos por Huet. Todos os anos a comunidade surda organizada realiza uma série de eventos no mês, que tem ainda o dia 30 de setembro como Dia Internacional do Surdo.

Para os profissionais intérpretes e tradutores de LIBRAS, a regulamentação da profissão veio em 2010. Diversas instituições federais e estaduais de ensino superior do Paraná, além de privadas, já disponibilizam há quase duas décadas cursos formação em Letras em LIBRAS, o que representa um avanço para a comunidade de surdos que passam a ter mais profissionais capacitados para atendê-los em suas incursões pelo mundo do conhecimento e assim promover maior inclusão social. 

Silvia Calciolari

Jornalista e mestre em Sociologia das Organizações pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).