Por que uma doença que tem vacina, tem tratamento e tem cura ainda mata milhares de pessoas por ano no mundo? Hoje (24), comemora-se, em todo o planeta, o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. Atuante no combate à doença em diversas frentes, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) reforça a importância da prevenção e da conscientização sobre o tema.
O Laboratório de Ensino, Pesquisa e Análises Clínicas (Lepac) da UEM é referência no diagnóstico da doença. Localizado no câmpus sede da Universidade e vinculado ao Centro de Ciências da Saúde (CCS), o Lepac tem convênio com o governo estadual para atendimento aos 30 municípios da 15ª Regional de Saúde. Em casos suspeitos de tuberculose, no entanto, o laboratório faz exames para toda a macrorregião Noroeste do Paraná, que totaliza 115 municípios.
Somente em 2023, o Lepac fez 1.604 Testes Rápidos Moleculares (TRM) para detecção da doença. Quase 10% do total – 149 casos – tiveram resultado positivo, segundo a supervisora do laboratório e professora do Departamento de Ciências Básicas da Saúde (DBS), Fabiana Nabarro Ferraz.
O tratamento aos positivados ocorre em outra frente de atuação da UEM no combate à tuberculose – o Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). Referência no tratamento de diversas infecções, o hospital atendeu 119 casos suspeitos de tuberculose em 2023. Destes, 27 foram inicialmente confirmados e 19 tiveram alta, além de dois abandonos, um óbito e cinco mudanças de diagnóstico.
Mais do que o diagnóstico e o tratamento, a Universidade também se dedica à prevenção, à conscientização e ao mapeamento dos casos de tuberculose em Maringá e região. Confira, abaixo, mais detalhes sobre a atuação da UEM e saiba como se prevenir da doença.
Alta tecnologia auxilia exames do Lepac
O TRM é capaz de detectar o DNA da bactéria causadora da doença diretamente na amostra de escarro do paciente. O resultado fica pronto em cerca de duas horas. No Lepac, a amostra é analisada pelo GeneXpert, equipamento cedido ao laboratório pelo Ministério da Saúde, em 2018.
O dispositivo oferece alta sensibilidade para detecção da tuberculose, bem como maior rapidez na liberação do resultado em comparação com o exame de baciloscopia – visualização da bactéria no microscópio -, que é utilizado há mais de 100 anos.
Equipamento GeneXpert é usado pelo Lepac/UEM para análise de amostras de possíveis casos de tuberculose
Segundo a professora do Departamento de Análises Clínicas e Biomedicina (DAB) e coordenadora do Lepac, Regiane Bertin de Lima Scodro, o laboratório também faz a cultura da amostra clínica do paciente e o teste de susceptibilidade aos fármacos aplicados no tratamento da doença. Os procedimentos ajudam a identificar se a bactéria detectada possui resistência aos antibióticos mais usados no combate à tuberculose.
O equipamento usado para esse processo é o BD BACTEC MIGT, sistema presente em apenas dois laboratórios do Paraná – além do Lepac, está no Laboratório Central do Estado (Lacen), em São José dos Pinhais-PR. “O método automatizado apresenta mais sensibilidade quando comparado ao exame manual. Esse sistema de cultura, que possibilita o crescimento da bactéria, garante um exame de alta qualidade e de maior rapidez para atender as necessidades dos pacientes com tuberculose”, destacou a coordenadora.
Um desafio para os profissionais do laboratório são os casos assintomáticos da doença. Segundo a coordenadora, muitas pessoas podem estar infectadas mesmo sem apresentarem sintomas, em quadro chamado de “tuberculose infecção”.
Para esses casos, o Lepac implantou, em 2022, o exame IGRA, teste realizado no sangue do paciente. O método identifica o componente da resposta imunológica do organismo infectado e, por isso, permite maior precisão no diagnóstico dos casos assintomáticos. O teste pode ser usado em pessoas que tiveram contato com doentes ou que, por outro motivo, tenham suspeita de infecção.
Os exames de alta qualidade realizados pelo Lepac são, em sua maioria, subsidiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como forma de apoio à saúde pública. A professora Rosilene Fressatti Cardoso, que atua no Lepac há anos com foco no combate à tuberculose, esclarece que a luta contra a doença é uma iniciativa de todos. O combate começa com a vacina BCG, aplicada especialmente em crianças, que previne as formas graves da doença.
“Outras ações importantes são a realização do diagnóstico precoce da doença e busca dos contactantes do doente para, se necessário, realizar o tratamento preconizado para cada caso adequadamente, conforme recomendação do profissional de saúde”, reforçou.
Hospital Universitário é referência para a região
Também lotado no CCS da Universidade, o HUM atende casos de tuberculose de toda a macrorregião Noroeste do estado. Em 2023, pacientes com suspeita de tuberculose de 19 municípios diferentes receberam tratamento no hospital.
Segundo a professora do Departamento de Medicina (DMD) e médica infectologista do HUM Maria Emilia Avelar Machado, a precocidade do diagnóstico é uma das principais medidas no combate à doença. “Quanto mais cedo se faz o diagnóstico, melhor para o paciente e menor o risco de infectar outras pessoas, e principalmente as pessoas mais próximas. Tuberculose tem tratamento e tem cura”, afirmou.
Outra preocupação dos profissionais do HUM é garantir que o tratamento seja correto e completo, alertou a professora. A melhora nos sintomas durante os primeiros dias de medicação pode levar pacientes a interromperem o tratamento de forma precipitada. Essa atitude pode aumentar a resistência das bactérias, diminuindo as chances de cura.
O Núcleo de Vigilância Epidemiológica (NVE) do HUM prepara, a cada ano, um boletim com dados oficiais e um levantamento dos municípios e bairros de origem dos pacientes tuberculosos. Também são levantados fatores socioeconômicos, como idade, renda e hábitos de consumo, além de outros fatores de risco associados à infecção, o que permite um melhor mapeamento da doença na região. Os dados de 2023 já foram coletados, e o novo documento já está em confecção.
Outras ações
Além das ações do Lepac e do HUM, a UEM oferta cursos de graduação e programas de pós-graduação nas áreas de Biociências, Biotecnologia, Ciências Farmacêuticas, Enfermagem e Medicina, que promovem a formação de profissionais com alta qualificação para atuarem no combate à tuberculose e outras doenças infecciosas.
Os estudantes e docentes da Universidade, incluindo os colaboradores do Lepac e do HUM, realizam, com frequência, ações de conscientização à população sobre a tuberculose. Já foram promovidas iniciativas em locais como a Feira do Produtor, o Parque do Ingá e a Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Maringá (Expoingá).
Colaboradores da UEM também participaram de atualizações técnicas para profissionais de saúde em municípios da 15ª Regional de Saúde do Paraná, com o objetivo de orientá-los sobre a prevenção e o correto tratamento da tuberculose.
No âmbito da pesquisa, professores e alunos de pós-graduação desenvolvem diversos projetos com foco em prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
Muitas das ações contam com apoio financeiro de agências de fomento à pesquisa, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação Araucária (FA). “São estudos de novas substâncias que apresentem atividade contra a bactéria causadora da tuberculose e que, no futuro, possam ser utilizados como novo medicamento, bem como no desenvolvimento de métodos de diagnóstico mais rápidos e de menor custo”, enfatizou a professora do DAB Katiany Rizzieri Caleffi Ferracioli.
Dia Mundial de Combate à Tuberculose
A escolha da data para o Dia Mundial de Combate à Tuberculose é emblemática. Há exatos 142 anos, também em um 24 de março, o médico alemão Robert Koch anunciava a descoberta da bactéria causadora da doença, batizada em sua homenagem.
Mais de um século depois, o bacilo de Koch, de nome científico Mycobacterium tuberculosis, ainda intriga e preocupa médicos e pesquisadores por todo o mundo. De acordo com o Relatório Global sobre Tuberculose, da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 2023, quase 10,6 milhões de pessoas tiveram tuberculose no ano de 2022. Dessas, 1,3 milhão morreram devido à doença.
O Brasil, infelizmente, tem participação importante nessas estatísticas. Além de responder por um terço dos casos de tuberculose das Américas, o país faz parte de um grupo de 30 nações que, juntas, somam quase 87% do total de casos da doença no mundo. Em 2022, foram mais de 81 mil novos casos e 5.845 óbitos por tuberculose em território brasileiro.
Localmente, o Paraná tem taxa de incidência da doença menor que a média brasileira – 19,3 casos a cada 100 mil habitantes, contra 37 do país inteiro. Ainda assim, algumas regiões do estado apresentam média similar ou superior à taxa nacional.
O principal sintoma da doença é a tosse persistente com secreção. “Toda pessoa com tosse com secreção há mais de 3 semanas deve ser investigada para a tuberculose”, frisou a doutora Maria Emília Avelar Machado. Outros indícios da infecção são febre baixa, principalmente ao entardecer, suor noturno, perda de peso e fadiga. Em alguns casos, os pacientes também podem apresentar dor no tórax, escarros com sangue e falta de ar.
Conforme a médica, a tuberculose é transmitida por vias respiratórias por meio de pequenas partículas, os aerossóis, que se espalham no ar ou se depositam no ambiente. Tosse, fala e espirros de infectados podem contaminar pessoas próximas, o que faz com a doença seja considerada altamente contagiosa.
Mesmo assim, há formas de vencê-la. Além da vacinação em massa, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, a diminuição dos fatores de risco, como o vírus HIV, também pode ajudar na redução da letalidade da doença. “Ainda hoje, a tuberculose é a principal causa de óbito entre as pessoas com infecção pelo vírus HIV, segundo a OMS. Também é importante fortalecer as campanhas de redução do tabagismo, pois existe uma forte associação entre o tabagismo e a tuberculose”, exemplificou.
Serviço
O Hospital Universitário Regional de Maringá está localizado na Avenida Mandacaru, 1590, no Parque das Laranjeiras, em Maringá, com funcionamento 24 horas por dia. É possível contatar o HUM pelo telefone (44) 3011-9100.
O Lepac pode ser encontrado no Bloco K-10 do câmpus sede da UEM, com atendimentos de segunda a sexta-feira, entre 7h20 e 11h30 e 13h e 17h. O telefone do laboratório é o (44) 3011-4317.
Legenda da foto de abertura: Farmacêutica Thaila Fernanda Oliveira da Silva, do Lepac/UEM, realiza exame de tuberculose no laboratório.
Crédito das imagens: Regiane Bertin de Lima Scodro/Lepac/UEM.