Com materiais de baixo custo, alunas transformam ciência em ação para recuperar áreas degradadas
Quando você pensa em foguetes, o que vem à sua mente é o espaço? Para as integrantes do ‘Little Science’, clube integrante do projeto Meninas e Mulheres na Ciência, o destino é outro: a Terra. Com materiais simples e biodegradáveis, elas criam minifoguetes que transportam sementes nativas para áreas de difícil acesso, unindo ciência e sustentabilidade. A iniciativa esteve presente no Paraná Faz Ciência 2025, que aconteceu entre 29 de setembro e 3 de outubro, em Guarapuava.
Para a coordenadora do clube, professora Marlene Lins, o impacto do projeto dos minifoguetes vai além da questão ambiental. “Percebo que as estudantes envolvidas na pesquisa passaram a se destacar na sala de aula, em várias disciplinas. O interesse pelo conhecimento extrapolou a área da Biologia e da Física, se manifesta também em outras áreas.” Outro aspecto a destacar é o interesse em mostrar os resultados. “As estudantes gostam de expor seus conhecimentos para a comunidade escolar e para seus colegas. A oportunidade de participar do Paraná Faz Ciência é um momento de troca importante. Conhecer outros clubes e outros projetos vai enriquecer muito o repertório de conhecimento das meninas. Inclusive para trazer sugestões para os colegas de clube que não poderão participar diretamente”, completa a professora.
Criado em 2023, dentro do clube de ciência da escola, o projeto já passou pelas mãos de diferentes gerações de estudantes. Hoje, quem conduz a proposta são as clubistas Giovana (16), Elisa (16) e Isabela (14), que seguem aperfeiçoando a ideia de usar tecnologia acessível em favor do reflorestamento. “Desde que o projeto foi criado, já tivemos umas três gerações de alunas que entraram e se formaram”, relata Giovana. Ela recorda que a transição para o trio atual aconteceu no momento da despedida de uma geração anterior e o envolvimento foi imediato: “Nós pegamos aquele projeto com todo o amor que a gente tinha e começamos a trabalhar nele.”
Para a estudante, participar significa unir aprendizado e compromisso. “É uma honra poder fazer parte desse projeto. É algo muito importante, principalmente nos dias atuais, com as queimadas e toda essa mudança climática. Não é só crescimento pessoal de conhecimento e de habilidades, mas também sinto como se eu estivesse ajudando o meu próprio planeta.”
O relato de Giovana mostra a dimensão simbólica do envolvimento, mas o cotidiano do grupo também é marcado por experimentação e prática científica. Ao contar sobre os testes, Elisa explica que eles são feitos para observar diferentes aspectos do projeto. “A gente já fez testes, indo em parques para ver quantos metros o foguete pode ir, quantas sementes ele consegue derrubar.” Segundo ela, o processo se repete continuamente em busca de aperfeiçoamentos. “Desde o início do ano, estamos mexendo no projeto, testando materiais, vendo a decomposição das sementes, escolhendo quais usar. É um projeto em constante movimento.”
Além dos avanços técnicos, Elisa destaca que o clube também transformou sua vida. “Eu não sei o que eu seria sem o clube, sem os projetos, porque basicamente mudou a minha vida! Estar em um projeto que envolve meio ambiente, física e astronomia ao mesmo tempo e de uma maneira tão fácil, é incrível! Eu estou trabalhando com algo que eu gosto e ajudando o planeta ao mesmo tempo.”
Isabela, que integra o grupo desde o início deste ano, reforça a preocupação em manter a iniciativa sustentável. “Os foguetes são feitos com materiais biodegradáveis, porque o intuito é reflorestar, não agredir a natureza. Nosso objetivo sempre é não degradar ainda mais o meio ambiente.” Além do compromisso ambiental, ela descreve o sentimento de pertencimento que o projeto proporciona. “Fazer parte desse projeto é muito bom, porque eu sinto que estou ajudando a melhorar o nosso mundo. Por mais que o projeto seja pequeno, eu sinto que estou fazendo algo diferente. É muito agradável participar dele.”
A estudante também comenta a expectativa para o evento. “Eu espero ver muitos projetos legais também. Estou muito feliz pela experiência de participar da Feira de Ciências do Paraná Faz Ciência e ver os outros clubes mostrando o quanto evoluíram.”
O projeto deixou marcas também em quem já passou pelo grupo. O depoimento de Allana (18) mostra como a experiência vivida em espaços como os clubes de ciência pode orientar futuros caminhos. “Esse projeto modificou a minha vida de uma forma que eu não posso explicar. Mudou muito as minhas relações, como eu me formei como pessoa e ajudou na minha vida acadêmica. Porque, a partir desse projeto, eu consegui achar um caminho, que é a biotecnologia e foi graças a ele.”
Assim como as sementes lançadas pelos minifoguetes, as trajetórias das estudantes também alcançam novos espaços para se desenvolver. Entre as atuais integrantes, Giovana não estará em Guarapuava, recentemente a clubista embarcou para o Reino Unido pelo programa Ganhando o Mundo. Antes da viagem, inclusive, foi sondada para colaborar em uma oficina de minifoguete no continente europeu, um convite que reforça o reconhecimento de sua experiência. Os percursos das jovens mostram que o projeto, mais do que reflorestar áreas de difícil acesso, contribui para formar futuros: jovens que ampliam horizontes, constroem conhecimento e levam a ciência para além das salas de aula.