No clube do Colégio Estadual Doutor Camargo, as atividades colaboram até para melhorar o relacionamento entre os alunos

No Ritmo do Conhecimento é o nome do clube de ciências do Colégio Estadual Doutor Camargo, no município de mesmo nome. Com 20 integrantes do 7º ano, os clubistas estudam a cultura hip-hop, inclusive o nome escolhido pelos estudantes em conjunto com a professora coordenadora, Simone Gonzales Sagrilo, faz referência à temática: aprender com ritmo.
O objetivo do projeto é usar elementos da cultura hip-hop, entre eles o rap (poesia), a dança e o grafite, para trabalhar diferentes conhecimentos na escola. Ou seja, procura colaborar para a dinâmica de estudos das disciplinas e para superação das dificuldades em relação a alguns conteúdos apontados pela maioria dos alunos.
Os clubistas começaram os estudos a respeito do surgimento do hip-hop que será aprofundado nas próximas aulas. Mas, primeiramente, refletiram sobre outras questões como a montagem da sala de aula e do painel do clube. Este último foi realizado de forma manual e coletiva. É um tecido-não-tecido (TNT) amarelo que ocupa todo o espaço da parede ao fundo da sala de aula. Nele há escrito em material EVA (Etileno Acetato de Vinila) o nome do clube.
“Foi um processo lento, em que pude avaliá-los, ver as noções de espaço e de organização. E percebi que têm alunos com dificuldades até mesmo em recortar e colar os EVAs com glitter para formar as palavras do painel. Então, por isso, nós estamos entrando nos estudos a respeito do rap (poesia) e do hip-hop agora”, explica Simone.
A proposta científica do projeto, segundo a professora, é trazer os principais elementos do hip-hop para a realidade dos estudantes com a intenção deles trabalharem algum problema de aprendizagem. “Por exemplo, a dificuldade com tabuada. Se eles conseguirem fazer uma música sobre o tema, ir trabalhando rimas e imagens sobre o assunto, vai ajudar na fixação e será ótimo! Porque essa é uma das grandes reclamações do professor de matemática”, aponta a educadora.
Conforme Simone, uma escola moderna, além de ter equipamentos eletrônicos de alta tecnologia, precisa saber trabalhar o conteúdo de forma diferente, a exemplo da atividade com música. Os alunos podem, assim, aprender de uma maneira mais leve. Com o andamento das atividades, a ideia é observar os resultados e entender os benefícios dessa proposta para a educação de uma pequena amostra de alunos – uma turma, por exemplo.
Um passo de cada vez
A dinâmica do clube é diversa e, por ser um colégio integral, acontece semanalmente nos horários das aulas eletivas de segunda-feira. A professora explica que é preciso dividir as aulas entre teóricas e práticas, “a gente tem que dar um passinho de cada vez, assim, tentando aprofundar”. Seguindo as regras do edital da Rede de Clubes, existe uma quantidade equilibrada de estudantes meninos e meninas.
A professora destaca um momento interessante que o clube vivenciou. “O mais significativo, pode não parecer nada, mas foi a montagem do painel. Foi interessante porque eles dividiram as tarefas entre eles. Retirando um pouco do egocentrismo, aprendendo a compartilhar os materiais, trabalhando em equipe, até fazer despontar lideranças e escutar o outro. Acho que isso é uma das maiores conquistas que a gente conseguiu ali”, afirma Simone.
O fato de surgir um líder natural do grupo é justamente por assumirem responsabilidades. “No caso é o Pedro. Quando eu chego na sala, ele já vem com o teclado, ligando a televisão e os outros vão se sentando. Teve um dia que algumas meninas do clube viram que caiu um pedacinho do painel, correram para colar de novo e pegaram cola quente para terminar de fixar”, descreve a coordenadora do clube .
Para ela, é gratificante observar essa movimentação dos clubistas trabalhando em grupo. “É sobre eles se respeitarem entre si, que é o mais importante. Essa é uma das grandes dificuldades na escola hoje. Os alunos estão precisando de um apoio nessa questão de respeito. Mas essa dinâmica, deles aprenderem a viver num grupo, é muito positiva para melhorar isso!”.
Entre as dificuldades, Simone pontua a falta de tempo para preparar as aulas do clube. “O fato do clube estar aliado ao horário das eletivas e ter pouca hora atividade para poder desenvolver as atividades do clube, deixa a gente um pouco atrasado com as datas que são solicitadas. Uma aula só é pouco tempo para você se dedicar como precisava”, defende a docente. Mesmo assim, a escola é muito boa e oferece bastante suporte, informa Simone. “Quando eu pedi uma sala só para o clube de ciências, eles a providenciaram, até porque a minha intenção é começar a produzir material e guardar lá. Então a infraestrutura é boa”.
Próximos planos
A evolução dos estudantes já chamou a atenção de Simone. “Os alunos amadureceram muito, aprendendo com coisas simples que são diferentes da metodologia comum da sala de aula, e os professores crescem junto, porque cada grupo é um grupo, cada aluno é um e cada realidade é única. E eles trazem para a gente a vivência deles. Como é um um projeto com certo tempo, neste caso, de 30 meses, é uma oportunidade única para conseguir trabalhar com esse grupo de uma forma bem diferente “, diz.
A possibilidade de amadurecer os alunos e prepará-los com algo a mais do que a escola pode oferecer no currículo comum é muito interessante. “Talvez a gente não saiba exatamente o que vai sair do clube, mas sei que vai ser algo bom. Um projeto como esse transforma vidas — mesmo que só um pouco, já é muito”, afirma a professora.
A expectativa é que os alunos apresentem seus trabalhos na Culminância do final do ano — um evento semestral em que as disciplinas eletivas apresentam para toda a escola os trabalhos desenvolvidos nesses seis meses, e é o caso do clube. O grupo também deve concluir o estudo sobre o rap, criar composições autorais e, com a chegada de novos materiais, incluir oficinas de dança e grafite com a possível contratação do Instituto Matéria Rima, uma organização sem fins lucrativos que busca por meio do hip-hop promover a educação e a cultura. “Assim eles podem nos ajudar com a parte da dança e depois o grafite”, finaliza a docente.