Rita de Cássia dos Anjos, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no Setor Palotina, foi anunciada, nesta quinta-feira (6), como a vencedora da primeira edição do Prêmio Anselmo Salles Paschoa, criado pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) para homenagear pesquisadores negros da área de Física, em início de carreira, cujo trabalho de pesquisa tenha contribuído de forma significativa para o avanço da Física ou do ensino da disciplina no Brasil. O prêmio será celebrado em reunião on-line da Assembleia Geral Ordinária da SBF, a ser realizada no dia 19 de julho, às 9 horas.
Com graduação em Física Biológica, mestrado e doutorado em Física e pós-doutorado em Astrofísica na Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Rita de Cássia é uma astrofísica especialista em raios cósmicos e raios gama. Ela tem atuação marcante em projetos internacionais como o do Observatório Pierre Auger, na Argentina, e o Cherenkov Telescope Array (CTA), telescópios que estão sendo construídos no Chile e nas Ilhas Canárias, na Espanha, que estudarão os raios gama que chegam até a Terra para analisar eventos extremos do universo. Além de ser uma importante cientista mulher, Rita é uma cientista negra que ganhou destaque na ciência apesar do racismo estrutural no Brasil.
Em sua carta ao comitê avaliador do prêmio, a professora destaca que suas contribuições científicas revelam seu empenho desde a graduação. “Sinto-me uma negra especial diante de todas as oportunidades que tive na minha carreira científica. Que mais negros e negras sejam reconhecidos em nosso país e as assimetrias e desigualdades possam diminuir. Com meu trabalho como docente, pesquisadora e orientadora, espero tornar o futuro de nossos pequenos negros e negras um pouco mais esperançoso e mais leve”.
Ela afirma que o prêmio mostra a importância da diversidade racial na ciência brasileira. “Ainda somos poucos em muitos espaços e as iniciativas à diversidade emergem como possibilidade de muitos negros e negras desenvolverem-se no Brasil. Para mim, foi uma grande alegria e conquista ter ganhado o prêmio nesta primeira edição. Hoje tenho a possibilidade de fazer pesquisa em centros de excelência e espero que em um futuro próximo esta realidade seja de muitos jovens negros”.
Em 2020, a pesquisadora venceu o prêmio Programa para Mulheres na Ciência, promovido pela L’Oréal Brasil, Unesco Brasil e Academia Brasileira de Ciências e, em 2021, tornou-se membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências. A grande inspiração de Rita foi a mãe, Antonia, que fez questão de insistir na importância de descobrir como o mundo funciona. Leia mais sobre a trajetória da astrofísica aqui.
Prêmio Anselmo Salles Paschoa
O prêmio é uma homenagem ao professor a Anselmo Salles Paschoa, que se graduou em Física pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com Mestrado em Radiological Health e PhD em Nuclear Sciences and Engineering pela New York University.
Ele atuou como professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi professor visitante da University of Utah e cientista convidado no Brookhaven National Laboratory, na década 80. Paschoa ainda foi diretor de Radioproteção, Segurança Nuclear e Salvaguardas da Comissão Nacional de Energia Nuclear. Foi governador alternativo do Brasil na Junta de Governadores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), vice-presidente da International Radiation Physics Society e diretor da Natural Radiation Environment Association.
O cientista publicou dezenas de artigos, livros e capítulos de livros. Orientou teses de doutorado e dissertações de mestrado. Faleceu em 2011, após uma crise cardíaca durante uma reunião da Comissão de Acompanhamento do Programa Nuclear Brasileiro, na sede da SBF.