Muito mais que espaços de preservação da memória, centro de documentação e exposição de acervos, os espaços querem adotar estratégias e inovações para ampliar ensino, pesquisa e extensão
A popularização da ciência passa, necessariamente, pelos museus universitários. Esta é uma das muitas conclusões a que chegaram os participantes do I Encontro Paranaense de Museus Universitários realizado durante o Paraná Faz Ciência 2024. Com o tema ‘Estratégias e Inovações para a Popularização do Conhecimento’, o evento, encerrado nesta sexta-feira (11), promoveu, pela primeira vez na história das instituições estaduais de ensino superior, a integração entre os coordenadores, diretores e gestores dos espaços museais paranaenses.
Os gestores acreditam que os museus universitários têm grande potencial para a divulgação da ciência produzida na academia, com o uso das ferramentas da tecnologia com propostas atrativas, interativas e com inovação na apresentação dos acervos. E mais: podem ser um espaço para a educação não formal para graduandos e pós-graduandos de todas as área do ensino superior.
Para o coordenador do I Encontro, Celso Ivam Conegero, do Museu Dinâmico Interdisciplinar, da Universidade Estadual de Maringá (Mudi/UEM), um dos aspectos positivos foi criar a oportunidade para todos se encontrarem e conhecerem o que existe no estado do Paraná em termos de museus, as particularidades, realidades e desafios que enfrentam em cada região do estado.
“A pandemia foi um raro momento em que nós nos reunimos, remotamente, e começamos a conversar e trocar experiências. A partir deste contato presencial promovido pelo Paraná Faz Ciência, vamos nos fortalecer enquanto uma verdadeira rede de museus, um grupo que fará a diferença daqui pra frente”, enfatizou Conegero.
Durante três dias, responsáveis pelos museus vinculados às universidades estaduais e federais estiveram reunidos na UEM durante o Paraná Faz Ciência 2024, maior evento científico do estado para divulgar o que está sendo produzido em termos de ciência, tecnologia e inovação.
Foram cinco paineis e uma oficina com palestrantes que vivenciam no dia a dia os desafios dos museus universitários, como infraestrutura, captação de recursos e ampliação e valorização dos acervos. Houve ainda a apresentação de museus universitários que compõem a Rede Estadual de Museus, Centros de Memórias, Documentação e Acervos Universitários das Universidades Estaduais do Paraná (Remup).
Carta de Maringá
Ao final do I Encontro, o grupo decidiu aprovar a elaboração da Carta de Maringá, um documento que será construído coletivamente contemplando as necessidades e propostas para melhorar a inserção dos acervos nas estratégias de popularização da ciência e integração dos espaços para ensino, pesquisa e extensão.
O texto deve ser finalizado até o final do ano com o objetivo de sensibilizar os gestores públicos e a comunidade em geral. “Com a participação de todos, pudemos nos apresentar à sociedade paranaense, uma vez que as discussões estarão disponíveis no canal da Universidade Virtual do Paraná (UVPR), no Youtube. Assim, quando forem viajar nas férias, todas e todos podem programar uma visita aos museus universitários, indicou Conegero.
A segunda edição do Encontro Paranaense já está definida para acontecer na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), em Guarapuava, no Paraná Faz Ciência de 2025.
Desafios e propostas
Durante I Encontro, o painel ‘Papel das Associações de Amigos de Museus para a Sustentabilidade’, com Isabel da Silva Chagas, da Associação dos Amigos do Mudi, e Marcelo Seixas de Matos, produtor musical e presidente do Instituto de Apoio a Museus e Patrimônio (IAMP) , debateu as estratégias para o engajamento e financiamento das atividades, com mediação de Claudia Rejane Schavarink Almeida (SETI).
Outras pautas fundamentais para os gestores foram amplamente discutidas no Painel 2: ‘A Inserção dos Museus nos Programas de Graduação e Pós-graduação’, mediado por Rodrigo Arantes Reis (UFPR). Participaram o coordenador do Museu de Ciências Naturais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Antonio Liccardo, o coordenador do Museu Campos Gerais, Robson Laverdi, e a professora e coordenadora de Projetos do MUDI, Débora de Mello Gonçales Sant’Ana. Ao final das exposições, o grupo concordou que os espaços museais também são apropriados para projetos de ensino, pesquisa e a curricularização da extensão.
Para discutir ‘O papel dos Museus de Ciências na popularização do conhecimento científico’, o painel 3 contou com a participação de Rodrigo Bastos do Museu de Ciências Naturais da Unicentro e Rodrigo Arantes Reis do Museu de Ciências Naturais da UFPR. A mediadora foi Ana Paula Vidotti, coordenadora do Projeto Mudi Itinerante. Para os palestrantes, o museu tem um papel educativo e formativo em um momento em que a interatividade é cada vez mais desejada pelo público.
Diretamente do Rio de Janeiro, a professora, coordenadora do grupo de pesquisa Museus e Centros de Ciências Acessíveis (MCCAC), divulgadora Científica e pesquisadora da Fundação Cecierj, Jéssica Norberto Rocha, encerrou por videoconferência a manhã do segundo dia do evento.
O último painel teve como tema o ‘Papel dos Museus Históricos diante dos avanços da inovação e tecnologia’ com Edméia Aparecida Ribeiro do Museu Histórico da UEL; José Henrique Rollo Gonçalves do Museu da Bacia do Paraná da UEM; Niltonci Batista Chaves
do Museu Campos Gerais da UEPG; e Jacira Ramos do Museu Regional do Iguaçu. A mediação ficou a cargo de Lucio Tadeu Mota do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história (LAHI) da UEM.
NAPI Memória e Inovação
O I Encontro Paranaense de Museu Universitários foi uma iniciativa da Rede Estadual de Museus, Centros de Memórias, Documentação e Acervos Universitários das Universidades Estaduais do Paraná (Remup), com apoio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), Fundação Araucária e as universidades estaduais do Paraná.
Na ocasião, também houve o lançamento e assinatura do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação, o NAPI Conectando Memória e Inovação, que irá se valer de Inteligência Artificial para agilizar a digitalização dos acervos dos museus e centros de documentação e memória.
Foram muitas as presenças que estiveram no I Encontro, como o secretário da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná, Aldo Nelson Bona; a diretora do Departamento de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação Científica do MCTI, Juana Nunes Pereira; o reitor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Leandro Vanalli; o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig; o diretor da FA de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Márcio Spinosa; e o coordenador da Remup, Renê Wagner Ramos.
Divulgação científica
Para provar que os museus também são espaços privilegiados para a pesquisa, foram lançados durante encontro dois livros repletos de ciência: o “Guia de Espaços de Divulgação Científica do Estado do Paraná” e o livro “Patrimônio Têxtil e Vestuário: Um olhar para os acervos de moda nos Museus”.
O Guia é uma obra coletiva, que contou com a organização de Jailson Rodrigo Pacheco, com a participação de Letícia Silva de Oliveira Mato, Ana Paula Machado Velho, Dhiego Cunha da Silva, Débora de Mello Gonçalves Sant’Ana, Rodrigo Arantes Reis e Renê Wagner Ramos. O guia é uma ação do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação – NAPI Paraná Faz Ciência , que está disponível em PDF, no site do PRFC.
Já a obra “Património Têxtil e Vestuário: Um olhar para os acervos de moda nos Museus”, de Ronaldo Vasques, é resultado da pesquisa do universo dos vestuários/moda presentes em museus, realizada em Portugal e no Brasil. O livro nos transporta aos bastidores do Museu Imperial- Rio de Janeiro e Museu de Alberto Sampaio- Guimarães/Portugal e compartilha conosco os detalhes de sua investigação sobre a indumentária/moda do século XIX.
A divulgação científica, também chamada de popularização da ciência, se refere ao processo de comunicar e explicar conceitos, descobertas e avanços científicos ao público em geral de uma forma compreensível e atraente. O objetivo principal é tornar o conhecimento científico acessível e relevante para aqueles que não são especialistas na área.
Captação de recursos
O I Encontro Paranaense de Museus Universitários terminou na sexta-feira (11) com a Oficina para Oficina para Capacitação em Projetos Culturais de Museus de Ciência. Afinal, os museus científicos também são produtores de cultura, a científica. Foi uma rara oportunidade para gestores e trabalhadores de museus entenderem como elaborar e inscrever, dentro da modelagem de projetos culturais, propostas via Lei Rouanet.
Sob a coordenação de Marcelo Seixas Matos, produtor cultural do Instituto de Apoio a Museus e Patrimônio, os participantes estão recebendo dicas e conhecendo estratégias sobre financiamento de atividades, eventos, custeio e produtos das instituições. Ao final da oficina, cada participante vai ter um projeto cultural modelado, apto para envio ao PRONAC – Programa Nacional de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet).